CULTURAS MOÇAMBICANAS
Moçambique possui uma rica e longa tradição cultural de
coexistência de diferentes raças, grupos étnicos e religiões, ora isto reflecte
a diversidade de valores culturais que em conjunto criam as identidades do
Moçambique moderno. Apesar de possuir uma diversidade cultural e religiosa
diferente de outros lugares raramente serve de razão para gerar conflitos entre
os povos de Moçambique.
Com o objectivo de criar uma identidade nacional, o
Português foi adoptado como língua oficial depois da independência. No entanto,
existem em Moçambique cerca de 20 grupos linguísticos e eles são contrários ao
Português largamente falado, especialmente nas zonas urbanas e hoje, cerca de
25% da população fala Português.
A constituição da República de Moçambique estabeleceu o princípio
segundo o qual o estado promove o desenvolvimento da cultura e personalidade
nacional e garantiu a livre expressão das tradições e valores da sociedade
moçambicana.
Efectivamente, a cultura deve ser entendida como um
componente determinante da personalidade dos moçambicanos e considera-se a sua
valorização como um elemento fundamental para a consolidação da unidade
Nacional, da identidade individual e do grupo.
Os povos que habitam actualmente Moçambique são incluídos no grande grupo
dos Bantu, que povoa
quase toda a África a Sul do Sahara. Dentro deste grupo há muitas sub-divisões,
ou etnias. Vejamos algumas noções elementares das principais etnias de
Moçambique, divididas, segundo muitos autores, em mais de oitenta sub-grupos.
1.Conceito de etnia
Historicamente,
a palavra etnia significa “gentio”, proveniente do adjectivo grego ethnikos. O
adjectivo se deriva do substantivo ethnos, que significa gente ou nação
estrangeira. É um conceito polivalente, que constrói a identidade de um
indivíduo resumida em: parentesco, religião, língua, território compartilhado e
nacionalidade, além da aparência física
Um grupo étnico é um grupo de indivíduos que têm uma certa
uniformidade cultural, que partilham as mesmas tradições,
conhecimentos, técnicas, habilidades, língua e comportamento.
A sociologia Africana, considera que uma etnia ou
um grupo étnico é grupo de pessoas que têm uma herança sociocultural comum,
como uma língua e tradições comuns.
Encontramos
uma diferença enorme entre Etnia, Tribo, Clã e Linhagem. A sua diferença com a
Tribo, surge no facto de que a Tribo
referir-se a um conjunto humano que reúne várias famílias sob a autoridade de
um mesmo chefe e num espaço territorial dado. A Etnia difere do Clã, visto que
este último refere-se a um grupo de pessoas que têm um ancestral comum.
Finalmente difere de linhagem, uma vez que esta é uma descendência.
Noutras palavras, os povos ou as populações de
ascendência comum constituem etnias; as etnias subdividem-se em tribos, as
tribos em clãs e os estes em linhagens. Em todos os países, cada pessoa tem
origens étnica, tribal, clânica e de linhagem
Antes da Conferencia de Berlim (Alemanha) de 1885, África
era subdivida em Nações verdadeiras cada uma das quais habitadas por pessoas de
ascendência comum. Os países africanos resultantes da Conferência de Berlim são
compostos de várias etnias, quer dizer de várias nações, culturas e tradições.
2 Principiais
grupos étnicos de Moçambique
Em
Moçambique, existem diversos agrupamentos humanos com características
socioculturais específicas. Ainda não há unanimidade no que se refere a uma
designação genérica desses grupos. Por razões óbvias, durante o período
colonial esses grupos eram designados por tribos, etnias ou grupos étnicos. O
termo povo, embora fosse
utilizado por alguns antropólogos e historiadores, não teve um uso sistemático
referido a essas entidades.
De acordo
com essa informação (MINED, 1986:36), os povos de Moçambique agrupar-se-iam de
acordo com uma característica cultural que se apresenta mais ou menos comum em
algumas regiões do País: os regimes de parentesco. O rio Zambeze constitui-se
numa fronteira natural desses regimes em Moçambique.
A norte
daquele rio localizam-se os povos matrilineares: Makonde, Yao, Makhuwa, Nyanja
e outros localizados no Zambeze superior, como os Nsenga e os Pimbwe, por
exemplo. A sul, encontram-se os povos patrilineares congregados nos seguintes
grupos: Shona, Tsonga, Chope e Bitonga. Entre os povos patrilineares figura
também o grupo Nguni, cujos núcleos se encontram espalhados pelo País.
No Vale
do Zambeze, uma zona de transição, situam-se povos de simbiose das influências
matrilinear e patrilinear, dos quais se destacam: Chuwabo, Sena e Nyungwe. Para
além dos grupos identificados, existem outros localizados na costa norte, cuja
característica particular é a influência patriarcal islâmica que apresentam:
são os Mwani.
2.1 Os makondes
Os
Makonde localizam-se no extremo norte, junto ao rio Rovuma. Encontram-se
igualmente no sul da Tanzânia, em número maior que em Moçambique. Apresentam
como traços culturais particulares a escultura em madeira, o uso de máscaras
nas cerimónias relacionadas com os ritos de iniciação e a execução da dança
tradicional conhecida por “mapico”. Foi em Mueda, centro dos Makonde, que em 16
de Junho de 1960 as autoridades portuguesas reprimiram uma manifestação
política da população local assassinando várias centenas de pessoas, fenómeno
que passou a ser conhecido na história por Massacre
de Mueda. Foi na região dos Makonde, no posto administrativo de Chai, que
em 25 de Setembro de 1964 é desencadeada a Luta Armada de Libertação Nacional,
47 anos depois que essa mesma região se constituiu no último foco da submissão
à ocupação militar portuguesa.
2.2 Os Yaos
Os Yao,
também conhecidos por Ajaua, ocupam a região junto ao lago Niassa e o norte da
província com o mesmo nome. Os Yao também se encontram no Malawi e no sul da
Tanzânia. Fontes históricas revelam que os Yao eram bastante activos o comércio
à longa distância, ligando as regiões do interior com a costa do Índico:
Quílua, na Tanzânia, e Ilha de Moçambique. Antes dos finais do século XVIII
eram os principais fornecedores de marfim. Segundo Rita-Ferreira (1982:124) os
Ajaua transitaram para as formas de comércio internacional com Quílua e Ilha de
Moçambique de uma forma gradual, a partir de trocas regionais restritas e
regionais de peles, produtos agrícolas e utensílios de ferro até atingir o
nível de uma florescente e bem organizada exportação de marfim, nos finais do
século XVIII. Rita-Ferreira diz ainda que no primeiro quartel do século XIX os
Ajaua tinham-se transformado nos maiores fornecedores de escravos exportados
para Mossuril (ibid.:285). Dado o seu contacto regular com a costa de
influência muçulmana, os Ajaua islamizaram-se mais cedo que os outros povos do
interior. Entretanto, uma islamização significativa viria a acontecer depois de
1890, em resposta à
pressões trazidas pela ocupação colonial (Cf. Ibid.:289).
2.3 Makuwa
Os
Makhuwa, por vezes considerados como duas entidades diferentes, constituem a
etnia de Moçambique dispersa por um vasto território que no passado se
estendia, do rio Zambeze ao rio Messalo, a Sul e Norte, respectivamente, do
Oceano Índico, a Este, até à actual fronteira com o Malawi, a Oeste;
Na
actualidade, com o centro em Nampula, os Makhuwa-Lomwe espalham-se para partes
das províncias de Cabo Delgado, Niassa e Zambézia. Importantes agrupamentos
Makhuwa encontram-se também no Madagáscar, no sul da Tanzânia e no Malawi,
também a sul. Os Makhuwa reclamam, segundo a tradição, uma origem mítica comum,
como comuns são também a sua organização sócio-familiar e a língua que falam.
Alguns estudos advogam ser este o grupo bantu mais antigo desta parte da África
Austral.
Entre os
makuwas, as linhagens familiares estão extensivamente representadas em todo o
território [étnico], levando-nos
à conclusão do íntimo parentesco existente entre as gentes que constituem
aquilo a que tem sido uso apodar de “tribos” Macuas. Igualmente, se encontram
as mesmas linhagens familiares (mahimo) em todas as “tribos” Macuas e
Lomues, cada qual reportando-se ao mesmo fundador antepassado. O que nos
permite reconhecer que todas as chamadas “tribos” Macuas e Lomues são afinal um
mesmo povo, embora por vezes assumindo variações regionais (1970:106).
2.4 Maraves
A norte
do rio Zambeze, na província de Tete e na parte ocidental da província do
Niassa, encontram-se os Marave. Os de Moçambique tomam a designação de Nyanja,
enquanto os de Malawi são chamados Chewa. Para além do Malawi, importantes
sectores do povo Nyanja se localizam na Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. Os Marave
são associados ao império do mesmo nome que se desenvolveu nas regiões onde
hoje é Zambézia e Nampula, por volta dos séculos XVI e XVIII e que, tal como os
Ajaua, se envolveu no comércio de marfim e de escravos. Possuem uma organização
matrilinear e tradições culturais particulares.
Junto ao
rio Zambeze concentram-se inúmeras etnias com características específicas e
exteriores aos grupos étnicos referidos, como são os casos dos Chuwabo, Sena e
Nhnungwe, designados habitualmente como “Povos do Baixo Zambeze”.
2.5 Shonas
Os Shona
ocupam os territórios entre os rios Save e Zambeze, subdividindo-se em três
grupos distintos: Ndau, Manyka e Tewe. De uma forma geral, surgem espalhados
pelas províncias de Manica, Tete e Sofala e, ainda, por algumas províncias do
Zimbabwe. Esta etnia está associada às ruínas do grande Zimbabwe, entre outros
amuralhados de pedra da região.
Shonas ou Xonas são um grupo de povos de línguas bantu que habitam o Zimbábue, a norte
do rio Lundi, e no sul de Moçambique. Foram
notáveis por suas peças de ferro, cerâmica e música, dentre
os quais podem ser destacados os zezuru, karanga, manyika, tonga-korekore e ndau. Com numeração
cerca de nove milhões de pessoas, que falam uma série de dialetos relacionados
cuja forma normalizada é também conhecida como Shona (Bantu). Um pequeno grupo de
imigrantes falando Shona dos anos 1800 também vivem na Zâmbia, no vale
do rio Zambeze, na área de
Chieftainess Chiawa. O Shona era tradicionalmente agrícola cultivando feijão, amendoim, milho, abóboras, e batata doce.
Os ndaus são um grupo étnico que habita o vale do rio Zambezi, do
centro de Moçambique até o seu litoral, e o leste do Zimbábue, ao sul
de Mutare. Os ancestrais dos ndaus eram guerreiros da Suazilândia que se misturaram com a população
local, constituída etnicamente por manikas, barwes, tewes, nas províncias moçambicanas de Manica e Sofala. A
população local do Zimbábue, antes
da chegada dos Gaza Nguni,
descenderia primordialmente de Mbire, próxima à
actual Hwedza. Os
ndaus falam um idioma que pertence à família linguística xona, o ndau.
2.6 Bitonga e
Chope
Os
Bitonga e os Chope concentram-se no sul do país, junto à costa, e nos arredores
da cidade de Inhambane, os primeiros, e numa faixa que vai para mais a sul, os
segundos que também povoam parte de Gaza, mantiveram ao longo dos séculos uma
proximidade cultural com os Tsonga.
Os chopes são dos distritos de Zavala e Inharrime, na
província de Inhambane. Este
povo viveu tradicionalmente da agricultura de subsistência. Historicamente,
alguns chopes foram escravizados e outros tornaram-se trabalhadores migrantes
na África do Sul. Os chopes são conhecidos
internacionalmente pelo instrumento musical mbila e dança associada, uma manifestação cultural conhecida desde o tempo de Gungunhana, que foi
considerada pela Unesco,
como Patrimônio Oral e Imaterial da
Humanidade. Os chopes identificam-se culturalmente, como
povo, com o elefante.
2.7 Os Tsongas
Os
Tsongas subdividem-se em três grupos particulares: os Ronga (do extremo Sul até
ao rio Limpopo), os Changane (junto ao rio Limpopo) e os Tswa (a norte do rio
Limpopo e até ao rio Save). Possuem uma organização patrilinear. Os Tsonga
constituem o grupo que, durante os três últimos quartéis do século XIX
estiveram sob influência directa do império nguni de Gaza.
Landins
ou Vátuas,
era o nome genérico dado aos indígenas de Moçambique,
a sul do rio Save. Tinham tradições guerreiras sendo o seu último grande imperador, Gungunhana o Leão de Gaza, sido destronado pelos
portugueses depois de grandes combates entre 1894 e 1895. O grupo
Tsonga tem continuidades nos territórios da África do Sul e da Suazilândia.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
FERREIRA, Antonio Rita. Agrupamento e Caracterização Étnica dos Indígenas de Moçambique. Disponível
em: http://www.malhanga.com/flipbook/estudos.documentos/
IVALA. Adelino
Zacarias. O ensino de História e as relações entre os poderes autóctone
e moderno em Moçambique, 1975-2000. Doutorado em Educação/Currículo.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo. 2002
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