Antropologia como ciência
Introdução a Antropologia
1.1 Antropologia como ciência
Ao longo da história do homem, inúmeros conctatos
entre povos de culturas distintas ocorreram e em muitas situações, havia
conflito, luta, morte e sofrimento.
Contudo, o encontro entre outros diferentes era uma constante.
Os
gregos reuniram informações sobre diferentes povos e deixaram registos e
relatos sobre essas culturas e Heródoto considera-se Pai da Antropologia.
Chineses
e Romanos também deixaram descrições sobre povos diferentes
Até o
século XVIII a Antropologia não era vista como ciência. Muitas pessoas como
cronistas, viajantes, soldados, missionários, comerciantes relataram fatos e
deixam dados sobre povos e culturas, mas somente nos meados do século XVIII é
que a Antropologia começa a aparecer como ciência.
Entre
os Séc. XV a XVIII, foram importantes as contribuições de cronistas, viajantes,
soldados, missionários e comerciantes que procuravam as regiões
recem-reconhecidas e habitadas por povos exóticos e estranhos
Normalmente
se considera como primeiros antropólogos os seguintes cientistas: Linneu (que
foi o primeiro a descrever as raças humanas), Boucher de Perthes (o primeiro a
relatar achados pré-históricos) e John Lubock que fez os primeiros estudos
sobre a Idade da Pedra, estabelecendo as diferenças culturais entre o
Paleolítico e o Neolítico. Porém, a consagração definitiva da Antropologia como
ciência vai se dar somente depois dos estudos de Darwin, o qual propôs a teoria
da evolução.
No
século XX a Antropologia conhece um grande progresso, fruto das descobertas
sobre o ser humano e as constantes pesquisas de campo realizadas com bastante
rigor científico.
Alguns
antropólogos definem a antropologia como “ciência” (e.g. Harris 1980, 1995),
outros como uma “humanidade” ou “arte” da interpretação cultural (e.g. Geertz
1973).
1.1.1 Conceituação de Antropologia
Definir
uma actividade académica com a diversidade de interesses, actores e agendas
como a antropologia não é tarefa fácil. Não admira pois que grande parte dos
manuais, em vez de fornecerem uma definição breve e pronta a consumir pelo
estudante ávido, dediquem capítulos inteiros à definição da actividade
antropológica
Etmologicamente,
o termo antropologia (anthropos, Homen, logos, estudo) singnifica o estudo do
Homem.
Segundo
HAVILAND apud SIQUEIRA (2007) Antropologia é o estudo da humanidade em toda a parte e através
do tempo, feito com a intenção de produzir conhecimento fiável sobre as
populações humanas e o seu comportamento, tendo em conta o que as torna
simultaneamente iguais e diferentes (e.g. Haviland 1999:5).
Como
Ciência da Humanidade, ela se preocupa em conhecer cientificamente o ser humano
em sua totalidade (carácter holístico), o que lhe confere um tríplice aspecto:
- Ciência Social: propõe a conhecer o Homem enquanto elemento integrante de grupos organizados
- Ciência humana: volta-se especificamente para o homem como um todo: sua historia, suas crenças, usos e costumes, filosofia, linguagem, etc
- Ciência natural: interessa-se pelo conhecimento psicossomático do homem e sua evolução.
Hoebel
e Frost (1981), consideram que a antropologia
é a ciência da humanidade e da cultura. Como tal, é uma ciência superior social
e comportamental, e mais, na sua relação com as artes e no empenho do
antropólogo de sentir e comunicar o modo
de viver total de povos específicos, é também
uma disciplina humanista.
A
antropologia é assim uma espécie de consciência cultural da humanidade. Daí que
todos os alunos em todas as escolas devessem aprender um pouco dela, de modo a
estarem mais aptos a compreenderem as diferenças culturais, cada vez mais
importantes num mundo crescentemente “multicultural” e “multiétnico”.
1.1.2 Objecto e objectivo da Antropologia
Podemos
afirmar que o objecto do estudo da Antropologia é a pessoa humana e a sua actividade.
No caso da Antropologia Cultural o objecto é o ser humano e os seus
comportamentos, ou seja, o homem e a mulher enquanto integrantes de grupos
sociais que fazem cultura. Por essa razão é possível dizer que o objectivo da
antropologia é o estudo da humanidade como um todo, bem como das suas diversas
manifestações e expressões.
Assim
sendo, pode-se dizer que no seu objectivo, a Antropologia se preocupa com a
pessoa humana na sua condição de ser biológico, ser pensante, ser que produz
culturas e ser capaz de organizar-se em sociedades estruturadas.
1.1.3 Divisões e Campos da Antropologia
De um
modo geral os antropólogos costumam dividir a Antropologia em dois grandes
campos de estudo: a Antropologia Física ou Biológica e a Antropologia Cultural,
com as respectivas ramificações.
1.1.3.1 Antropologia Física ou Biológica
Estuda
o ser humano na sua natureza e na sua condição física. Procura compreendê-lo
nas suas origens, no seu processo evolutivo, na sua estrutura anatómica, bem
como nos seus processos fisiológicos e biológicos. Ela
está estruturada em cinco campos:
1) a
Paleontologia que estuda a origem e a evolução da espécie humana;
2) a Somatologia que estuda o corpo humano nas suas variedades
existentes, nas diferenças físicas e na sua capacidade de adaptação;
3) A Raciologia que se interessa pela
historia racial do ser humano;
4) A Antropometria que trabalha com técnicas
de medição do corpo humano, especialmente de esqueletos (crânio, ossos, etc.),
usando instrumentos especiais de precisão, com o objectivo de fornecer informações
detalhadas acerca de pessoas ou de achados arqueológicos, sendo muito usada no
âmbito forense para tentar identificar corpos e esqueletos; e
5) Antropometria do crescimento, voltada
para o conhecimento e o estudo dos índices de crescimento dos indivíduos,
relacionando-o com o tipo de alimentação, de actividades físicas e assim por
diante.
1.1.3.2 Antropologia Cultural
Estuda
o ser humano enquanto fazedor de cultura. O seu objectivo é conhecer o ser
humano enquanto capaz de criar o seu meio ou ambiente cultural através de
formas bem diferenciadas de comportamento. A
Antropologia Cultural abrange seis campos específicos de actuação:
1) Arqueologia, que tem como objecto o
estudo das culturas extintas que viveram em épocas, em tempos e em lugares
diferentes, de modo particular as que não deixaram documentos escritos. Por
isso o estudo da Arqueologia consiste basicamente na análise de vestígios e de
restos de materiais dessas culturas encontrados em escavações e que resistiram
à destruição através do tempo.
2)Etnografia,
que se ocupa com a descrição das sociedades humanas por meio da observação e da
análise dos grupos sociais, tentando, na medida do possível, fazer a
reconstituição fiel de suas vidas. De um modo geral a Etnografia se ocupa com
as culturas simples, denominadas “primitivas” ou “ágrafas” (não possuidoras de
escrita).
3)Etnologia, que procura
fazer a análise, interpretação e comparação das diversas culturas pesquisadas,
tentando perceber as semelhanças e diferenças entre elas, buscando a existência
ou não de inter-relações do ser humano com o seu ambiente, da pessoa com a
cultura, em vista da percepção de mudanças e de acções.
4)Linguística que estuda a linguagem, as formas de comunicação e
também a forma de pensar dos povos e culturas. A linguística é um dos espaços
mais independentes e mais ricos da Antropologia. Basta pensar, por exemplo, na
quantidade e diversidade de línguas, sendo que cada uma delas possui a sua
forma e a sua estrutura básica. Por essa razão ela é considerada o âmbito mais auto-suficiente
da Antropologia.
5) Folclore, o
campo da antropologia social propriamente dita, refere-se ao conjunto de tradições e
manifestações popularesconstituído por lendas, mitos, provérbios, danças e
costumes que são passados de geração em geração;
6) Antropologia Social se interessa da sociedade e das suas
instituições. Estuda o ser humano enquanto ser social, capaz de organizar-se e
de tecer relações sociais. No campo da Antropologia Social é de fundamental
importância estudar a relação que existe entre cultura, sociedade e indivíduo,
uma vez que esse último não é um mero receptor e portador de cultura, mas
também agente de mudança cultural. Por outro lado, sabemos que a cultura tem
uma influência determinante sobre a vida do indivíduo.. Conhecer estas
inter-relações é sumamente importante para analisar o comportamento humano e a
capacidade de adaptação dos indivíduos aos valores propostos pelos grupos aos
quais pertencem.
Cultura e personalidade – Estuda as inter-relações entre a cultura e a personalidade.
1.1.4.Métodos da Antropologia
Por
método entende-se um conjunto de regras bem definidas que são utilizadas na
investigação. Normalmente o método segue um procedimento anteriormente
elaborado e que deve ser cuidadosa e escrupulosamente observado. O método tem
como finalidade descobrir quais são as lógicas e as leis da natureza e da
sociedade, visando respostas satisfatórias
Enquanto
ciência social que estuda o ser humano, a Antropologia faz uso de vários
métodos com destaque para:
- Método histórico -utilizado para a investigação de culturas passadas. Por meio dele o antropólogo, com a ajuda do historiador, tenta reconstruir as culturas, explicar fatos e observar fenómenos, como, por exemplo, as mudanças ocorridas e as adaptações.
- Método estatístico - empregado, sobretudo para analisar as variações culturais das populações ou sociedades. Os dados são obtidos por meio de tabelas, gráficos, quadros comparativos, etc.
- Método etnográfico - utilizado para descrever as sociedades humanas, de modo particular as consideradas primitivas ou ágrafas (sem escrita). O método consiste essencialmente em levantar todos os dados possíveis sobre uma determinada cultura ou etnia e, a partir desses levantamentos, tentar descrever o estilo de vida ou cultura desses grupos.
- Método comparativo ou etnológico - É usado de modo particular para a pesquisa sobre populações extintas. Por meio da comparação de materiais colectados, especialmente fósseis, se estudam os padrões, os costumes, os estilos de vida das culturas, vendo de modo particular as diferenças e semelhanças existentes entre elas. O objectivo é melhor compreender as culturas passadas e extintas.
- Método monográfico - É também chamado de estudo de caso. Consiste em estudar com profundidade determinados grupos humanos, considerando todos os seus aspectos como, por exemplo, as instituições, os processos culturais e a religião. O estudo monográfico é muito importante para os casos de culturas que estão ameaçadas de extinção, uma vez que permite analisá-las e descrevê-las de forma bem pormenorizada.
- Método genealógico - usado para o estudo do parentesco e todos os outros aspectos sociais dele decorrentes. Visa à análise da estrutura familiar e exige a presença de um informante, ou seja, de alguém que possa revelar os nomes das pessoas que compõem a árvore genealógica.
- Método funcionalista - a cultura é estudada e analisada a partir do âmbito da função ou das funções. Por meio dele busca-se perceber a funcionalidade de uma determinada unidade cultural no contexto da cultura geral ou global.
1.1.5 Técnicas de pesquisa da Antropologia
Por
técnica entende-se a habilidade do cientista ou pesquisador no uso dos métodos,
ou seja, daquele conjunto de regras bem definidas que são utilizadas na
investigação e que lhe permite obter os dados desejados. As técnicas usadas no
campo antropológico se destacam três: observação, entrevista e formulário .
- A técnica da observação - consiste na recolha e obtenção de dados. Nela os sentidos têm um lugar privilegiado. Ela pode ser sistemática ou participante. Na sistemática o pesquisador directa ou indirectamente, observa os fatos no local da investigação e por um período de tempo. Na participante o pesquisador, por um longo período de tempo, participa do seu campo de pesquisa. É muito utilizada para a pesquisa cultural. Neste caso o cientista torna-se um participante activo da cultura que quer estudar. Ela exige fina capacidade de observação, superação de preconceitos, trabalho diário de anotação, registo de fatos e de dados.
- A técnica da entrevista - consiste num contacto directo, face a face, do cientista e pesquisador com a pessoa entrevistada, da qual ele pretende obter informações. A entrevista pode ser dirigida ou não dirigida (livre). A entrevista dirigida é aquela na qual o entrevistador segue um roteiro pré-estabelecido. A não dirigida é aquela do tipo informal, sem roteiro a ser seguido, na qual o entrevistador vai colhendo as ideias do entrevistado, manifestadas de forma espontânea.
- O formulário - é uma técnica que se parece com o questionário. Consiste num levantamento de dados feito através de uma série organizada de perguntas escritas entregues ao entrevistado, às quais ele é convidado a responder. De uma certa maneira é uma pesquisa dirigida, uma vez que o rol de perguntas é feito pelo entrevistador, visando obter esclarecimentos sobre determinadas questões.
Convém
observar que no caso das duas últimas técnicas, embora as respostas sejam dadas
pelo entrevistado, o modo de formular as perguntas e a escolha do público alvo
pode induzir a um determinado resultado.
1.1.6 Antropologia aplicada
A
Antropologia apresenta duas dimensões: Prática e Teoria.
A
antropologia teórica, dedica-se a investigação pula, busca o conhecimento
possível que leve a melhor compreensão da humanidade.
Antropologia pratica busca os
conhecimentos teoricos e aplicam as suas experiencias junto dos grupos simples,
agrafos, quase sempre sujeitos a influencias externas que possam provocar
mudancas.
Dentre
todos seus numerosos conceitos consagrados pela Antropologia, três são considerados
básicos:
Aculturação
- Situação de contacto entre grupos que possuem culturas diferentes. Ex: Grupos
tribais e sociedade ocidental. Cria-se
uma relação de dominação entre culturas e como consequências dos contactos, as
culturas simples mudam e desaparecem porque a cultura dominante impõe suas
regras.
O
Relativismo Cultural - princípio que permite ao observador ter uma visão objectiva
das culturas, onde padrões e valores deverão ser tidos como próprios e
convenientes aos seus integrantes. A
relatividade cultural ensina que uma cultura deve ser entendida e avaliada
dentro dos seus próprios moldes e padrões, mesmo que estes pareçam estranhos.
Cada
indivíduo tem direito a sua própria crença e seus próprios hábitos, costumes e
o seu modo de pensar e agir devem ser respeitados. Ela toma em conta alguns
princípios humanitários:
- Direito a autonomia tribal – os grupos humanos tem direito de possuir e fazer desenvolver a própria cultura, sem interferências externas (crenças, hábitos e costumes, ideologia e cultura).
- Valores culturas – As formas de pensar e agir de grupos diferentes devem merecer o maior respeito possível e, por isso, seria injusta a introdução deliberada de mudanças no interior dessas culturas;
Etnocentrismo
– Principio que ocorre
quando um determinado individuo ou grupo de pessoas, que têm os mesmos hábitos
e carácter social, discrimina outro, julgando-se melhor ou pior, seja por causa
de sua condição social, pelos diferentes hábitos ou manias, por sua forma de se
vestir, ou até mesmo pela sua cultura. Deve se considera que há
modos de vida bons para um grupo que jamais servirão para outro.
Esta
visão demonstra, por vezes,
desconhecimento dos diferentes hábitos culturais, levando ao desrespeito,
depreciação e intolerância por quem é diferente, originando em seus casos mais
extremos, atitudes preconceituosas, radicais e xenófobas.
Aplicações da antropologia
A AA vem adquirindo um grande papel na
actualidade, onde; (i) o isolamento cultural é quase impossível, (ii) os
contactos são inevitáveis e se multiplicam, levando a situações de conflito.
Sendo assim, o papel da AA torna-se amplo:
- Empenha-se na solução de situações de conflito, procurando minimizar desequilíbrios e tensões culturas com vista a que culturas atingidas sejam menos molestadas e seus padrões vs valores respeitados; e
- Aplica conhecimentos antropológicos (físicos e culturas) na busca de soluções para modernos problemas sociais, políticos e económicos dos grupos simples e das sociedades civilizadas.
Antropologia e Colonialismo – O antropólogo
preocupa-se com os problemas criados pelo colonialismo e com a condição dos
colonizados. As tradições dos povos submetidos devem ser respeitadas pelos
colonos, que precisam de saber tratar com culturas tão diferentes e que a
interferência seja menos prejudicial
Antropologia e Projectos de Desenvolvimento
- Antropólogos são chamados em projectos
de iniciativa de Organismos internacionais (ONU, UNESCO) no âmbito da
colonização de terras, reformas agrárias, trabalho junto de sociedades locais,
campanhas de saúde, desenvolvimento da comunidade, etc
Antropologia e Coexistência populacional – A
coexistência de populações nativas com a nacional, requere a adopção adequadas
a cada realidade particular
Antropologia e industrialização – Na sociedades
civilizadas, a AA busca soluções referentes as relações de trabalho como:
baixos salários, greves, desempregos, injustiças sociais, excesso de trabalho,
etc.
O antropólogo procura as causas das tensões e
estabelece o equilíbrio social nessas e em outras relações. Na perspectiva
histórica a tarefa do antropólogo tem fracassada, face as pressões da cultura
dominante, que nem sempre concorda com as posições teóricas e os métodos
humanísticos por ele adoptados, na conciliação.
Recursos Humanos e Estudo
Organizacional - O antropólogo empresarial usa de ferramentas como a
análise organizacional, mapeando relações de poder informal e formal, estudando
papéis assumidos dentro dos grupos, canais de comunicação, valores colectivos e
individuais dentro de uma organização.
Bibliografia consultada
MARCONI, Maria de Andrade e PRESOTTO, Zelia
Maria Neves. Antropologia: Uma introdução. 7 Ed.- 3 reimpressao.
Editora Atlas. Sao Paulo. 2010
SIQUEIRA, Euler David. Antropologia: Uma introdução.
Sistema Universidade Aberta do Brasil. 2007.
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